quarta-feira, 12 de junho de 2013

Crônica: As folhas secas

Márcio passeava todos os dias na calçada daquela vila distante. Márcio e seu cachorro, doguinho. O ladrilho era preto e branco, o doguinho era preto e branco, só o Márcio que era branco... só branco.
Havia 26 anos que todas as manhãs ele via as folhas do chão, as flores no chão, o lixo no chão, a sujeira também estava lá. Márcio não costumava ver as coisas que estavam lá em cima, não tinha a oportunidade de ver as folhas ainda verdes ou as flores ainda imponentes.
Sabia decor quando a calçada era branca e quando era preta. As poucas reformadas que haviam ali ele já conhecia também e já se preparava alguns segundos antes quando havia um degrau ou um obstáculo.
Mas ele não passeia mais, o doguinho está preso há três dias, e ninguém deu falta do Márcio hoje.
O branco no rosto dele era ainda mais branco, ainda mais branco, quase transparente e quem sentirá falta dele? Todos... as folhas secas, as flores murchas e o doguinho.

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